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Movimentos sociais na Argentina

Cristina Kiki Mori Esdras Pereira Márcio Maurício Brasília, dezembro/2007. Movimentos sociais na Argentina. Estrutura da apresentação. 1. Marco temporal: Argentinazo 1.1. O que foi, como se desdobrou. 1.2. Contexto político-econômico que levou ao Argentinazo.

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Presentation Transcript


  1. Cristina Kiki Mori Esdras Pereira Márcio Maurício Brasília, dezembro/2007 Movimentos sociais na Argentina Movimentos Sociais na Argentina

  2. Movimentos Sociais na Argentina Estrutura da apresentação 1. Marco temporal: Argentinazo 1.1. O que foi, como se desdobrou. 1.2. Contexto político-econômico que levou ao Argentinazo. 1.3. Papel das organizações e movimentos sociais no Argentinazo. 1.4. Desdobramentos do Argentinazo: novas formas de luta e de organização 2. Sociedade civil argentina a partir do Argentinazo 2.1. Destaques: a) Assembléias de bairro/ vizinhos b) Empresas recuperadas 2.2. Por que elegemos estas duas formas de ação coletiva?

  3. Movimentos Sociais na Argentina Estrutura da apresentação 3. Análise à luz das teorias de movimentos sociais 3.1. Alberto Melucci 3.2. Alain Touraine 3.3. Maria da Glória Gohn 3.4. Ilse Scherer-Warren 4. Perspectivas / Futuro 5. Síntese

  4. ARGENTINAZOMovimentação social de Dezembro de 2001 Marco temporal da pesquisa Movimentos Sociais na Argentina

  5. Movimentos Sociais na Argentina Argentinazo: O que foi, como se desdobrou? • Protestos de 19 e 20 de dezembro. • Ápice da crise econômica: 20 anos de neoliberalismo, Menem, privatizações, corralito, medidas recessivas. • Crise política da democracia representativa: golpe militar 1976 e redemocratização não respondem. • Crise de instituções: políticos, partidos políticos, sindicatos, justiça, polícia, aparato burocrático do Estado. • Descrença aliada à miséria e pauperização da classe média, com o fim da paridade do dólar.

  6. Movimentos Sociais na Argentina Argentinazo: O que foi, como se desdobrou? • O que acontece em 19 e 20 de dezembro: • Agravamento de protestos que estavam em curso. • Saques em supermercados de diversas partes do país. • Manifestações de movimentos já anteriormente organizados, como piqueteros e MTD (desempregados). • Governo: forte repressão a saques e manifestações. • Intensificação conflitos de rua (13 a 19 de dezembro) • Presidente decreta Estado de Sítio (noite do dia 19) em cadeia nacional. • Classe média Buenos Aires: panelaço até a Casa Rosada. Derrubam presidente; protestam por saída de sucessores durante dias seguidos.

  7. Movimentos Sociais na Argentina Argentinazo: O que foi, como se desdobrou? • Palavra de ordem na madrugada do 19 para o 20:"Que se vayan todos" - descrédito na democracia representativa. • Dia 20: Madres da Plaza de Mayo - protesto pelo fim da repressão. Reprimidas pela polícia com gás lacrimogênio. • Manifestantes, sobretudo jovens, dirigem-se ao centro de Buenos Aires. • “Batalha campal” no centro de Buenos Aires. • Panelaço do dia 19 e confronto nas ruas do dia 20 não foram protestos marcados, combinados, nem liderados por movimentos pré-existentes ou partidos. • Momento especial: solidariedade entre manifestantes com apoio da população.

  8. Movimentos Sociais na Argentina Argentinazo: O que foi, como se desdobrou? • Após os protestos: • Classe média: vizinhos conclamam assembléias de bairros. • Retorno de um espaço de convivência e da solidariedade. • Sentimento de arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa para resolver a crise. • Não esperar nada do sistema político. • Bancos se tornam espaços de discussão e solidariedade entre vizinhos. • Assembléias de bairro passam a ser recorrentes, e emerge nelas uma organização horizontal, auto-gestionada, de discussão de problemas e soluções.

  9. Movimentos Sociais na Argentina Argentinazo: O que foi, como se desdobrou? • Ações práticas: garantia de alimentos, hortas comunitárias, fabricação de pão e refeitórios (comedores). • Movimentos de ocupação e recuperação de fábricas abandonadas pelos empresários ganha força e se articula nacionalmente. • Trabalhadores de fábricas ocupadas sofrem repressão policial. • Rede de movimentos de vizinhos, bairro, desempregados, aposentados e outras fábricas recuperadas: resistência e apoio. • "Moedas sociais". • Ocupação de prédios abandonados: moradia, atividades culturais, comedores, padarias comunitárias, assembléias de bairro e afins. • Movimentos de comunicação/ produção de contrainformação, culturais e artísticos: caráter simbólico e midiático.

  10. Movimentos Sociais na Argentina Argentinazo: O que foi, como se desdobrou? • Argentinazo não foi coordenado, mas começa com mobilizações de centrais de trabalhadores e organizações de pequenos e médios empresários. • Greve geral (13 de dezembro), corte de rotas, saques, manifestações e luta de ruas, ataques a edifícios públicos, bancos e empresas privatizadas e cacerolazos, culmina no combate de rua no centro político do país. • Atores políticos: trabalhadores, ocupados e desempregados, pequenos proprietários, camadas pobres proletariado, frações pequena burguesia assalariada e não-assalariada. • Opõe-se a políticas do governo, ao governo mesmo, ao conjunto do sistema institucional político, e à oligarquia financeira internacional, visualizada nos bancos, empresas privatizadas e cadeias comerciais.

  11. Movimentos Sociais na Argentina Contexto político-econômico que levou ao Argentinazo • Ditadura e pós-ditadura: política econômica neoliberal, concentração de renda, poder político representativo (Executivo e Legislativo) alheio à sociedade civil. • Argentinazo: ciclo de rebelião iniciado dezembro de 1993. • “Azos” das décadas de 1960 e 1970. • Palavra “Argentinazo”: sinaliza forma nacional do protesto. • Combina formas espontâneas e sistemáticas de luta. • Marcos deste ciclo: luta de ruas em várias capitais provinciais em 1995, Marcha Federal em 1994 e Jornadas Piqueteras em 2001 - momentos de articulação nacional.

  12. Movimentos Sociais na Argentina Contexto político-econômico que levou ao Argentinazo • 1976 à década 1990: hegemonia neoliberal. • Converte 65% da população em “sobra”. Desemprego aberto de 23% em 2002. Concentração de riqueza. Estrangeirização do capital. • Prolongada recessão econômica desde 1998. Início 2001: queda de ministro da Economia - retorno de Domingo Cavallo, investido de poderes extraordinários pelo Congresso. • Política de déficit nominal zero, corte de salários de servidores públicos e aposentados em 13%. Greve geral CGT, CTA, CCC, partidos de esquerda, deputados PJ, Federación Agraria, Asamblea Permanente por los Derechos Humanos e outros. • Eleições legislativas (outubro 2001): 42% ausentes, branco ou nulo. Governo derrotado; oposição (PJ) maioria no Congresso.

  13. Movimentos Sociais na Argentina Contexto político-econômico que levou ao Argentinazo • Fragilidade governo/ escândalos de corrupção. • Novembro 2001: crack bancário. Corralito: governo limita saques. • Desaparece dinheiro como meio de troca. • Protestos de dezembro: de maneira imediata, resposta ao corralito por parte da classe média assalariada, pequena burguesia e organizações sindicais. • Greve geral de 13 de dezembro: convocada pela CTA e CGT, reclamando a livre disponibilidade dos salários, a restituição do sistema de “asignaciones familiares” (benefício de assistência social pago a crianças e outros dependentes) e a renúncia de Cavallo.

  14. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada Periodização de protestos (Schuster, Pereyra e Scribano, em DI MARCO, 2004) 1983-1988: 75% dos protestos lideradas por sindicatos vinculados as indústrias. Destacam-se direitos humanos. 1989-1994: 60% dos protestos ligados à matriz sindical, mas não mais a sindicatos industriais e sim a agremiações de categorias (estatais, docentes, empregados de empresas privatizadas). 1995-2001: gama maior de protestos, muitos vinculados à matriz de cidadania, reclames por direitos e justiça, por igualdade de oportunidade, contra a violência policial.

  15. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada A. Trabalhadores ocupados e desempregados • Décadas de sistema de sindicato único (Peronismo): tutela. • Fechamento das indústrias, redução do número de trabalhadores, precarização: perda protagonismo fábrica. • Políticas neoliberais: aumento do trabalho informal/ temporário. • Cartoneros (catadores): aumento massivo. Organizaram-se em cooperativas. • Movimento de desempregados/ desocupados: ocupam fábricas abandonadas. • Pressionam Estado por reconhecimento e rede de assistência mínima, sem clientelismo. • CTA: inova ao incluir desocupados, informais e território.

  16. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada B. Movimento piquetero • Surgem no começo dos anos 1990; ganha ruas progressivamente ao final da década. • 1997: demissão em massa da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), privatizada e vendida à Repsol (espanhola). • Manifestações, ocupações de espaços públicos e bloqueios de vias: afetar esfera de circulação do capital. • “O único lugar no qual sentem que a polícia os respeita são os bloqueios de rua” (Zibechi, 2005, p. 204). • Forte ancoragem comunitária, com apoio dos moradores para interromper os circuitos de comunicação estratégicos.

  17. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada: piqueteros • Novas modalidades de organização e produção de caráter coletivo e cooperativo – em creches, restaurantes, padarias e hortas comunitárias • Nova força política: à margem das organizações tradicionais (sindicatos e partidos políticos). • Movimento de movimentos. • Pioneira: UTD (Unión de Trabajadores Desocupados), referência para as demais, criada em General Mosconi. • Traços que movimento piquetero traz para ações coletivas: • Práticas de assembléia, televisionadas para todo o país. • Luta pela terra (anos 1980): dimensão do local, do território.

  18. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada: piqueteros • “A figura do piquetero se foi afirmando como constitutiva de uma nova identidade social. O corte de rotas, pontes e ruas resultou em uma forma de afetar o processo de valorização capitalista, não mediante a greve que detém a produção (e que o desempregado não está em condição de realizar), mas sim afetando o transporte automotor, numa época em que a deslocalização da produção, o just in time e o incremento do comércio internacional por via terrestre dotam este setor de particular importância estratégica” (Campione, 2006, pg. 311). • Termo passou a denominar organizações de desempregados/ desocupados e influenciou uma série de outras organizações sociais.

  19. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada: piqueteros B.1. Agrupações piqueteras: principais correntes • Federación de Tierra y Vivienda (FTV) - território. • Impulsionou Asamblea Nacional de Organizaciones Populares. • Corriente Clasista y Combativa (CCC) – vinculada ao Partido Comunista Revolucionário. • MTD – Movimiento de Trabajadores Desocupados Aníbal Verón – múltiplos agrupamentos. • Movimiento Independiente de Jubilados y Desocupados - racha CCC • Polo Obrero – associado ao Partido Obrero (trotskista). • Asamblea Nacional de Trabajadores.

  20. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada: piqueteros • MTL – Movimiento Territorial Liberación - ruptura da FTV. • Movimiento Barrios de Pie – originalmente integrado à FTV. • Frente de Trabajadores Combativos (FTC) – recente - trabalhadores ocupados e desocupados. • Descrição corresponde a determinado momento. • Características não fixas; • Organizações frágeis.

  21. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada C. Trabalhadores assalariados e âmbito sindical • Movimento sindical submergiu. • Central de los Trabajadores Argentinos - CTA: • nasce em oposição a Menem (início 1990's). • 2001: enfrenta desmobilização de trabalhadores estatais; convoca referendo por subsídio a desempregados. • Confederación General del Trabajo de la República de Argentina - CGT: • nasce contra governo em 1968. • 2001: busca reunificação e fortalecimento nacional, em aliança com empresariado protecionista.

  22. Movimentos Sociais na Argentina Histórico de lutas da sociedade civil organizada D. Organizações culturais, juvenis e de direitos humanos • Origem recente, jovens de camadas médias urbanas, de boa formação intelectual, médio a alto nível de politização, e hábeis no uso de ferramentas culturais. • Videastas, fotógrafos, artistas plásticos, grupos musicais, teatro. • Internet: propostas alternativas ou contra-informação, agências de notícias não-comerciais e rádios comunitárias. • Objetivo: visibilidade da luta contestatória. Expressão explícita e consciente do conflito social e político. • 2001: difusão massiva de Internet em banda larga no mundo. • “Escraches”: atos contra repressores, corruptos, violadores de direitos humanos.

  23. Movimentos Sociais na Argentina Papel das organizações e movimentos sociais no Argentinazo • Greve geral convocada pelas três centrais sindicais – CGT-Daer, CGT-Moyano e CTA. • Organizações presentes: CGT, CTA, Juventude Sindical Peronista, partidos de esquerda, sindicatos variados, desempregados, piqueteros, Federación de Tierra y Vivienda (FTV) • Frente Nacional contra la Pobreza (FRENAPO) – iniciativa da CTA. • Indígenas, ferroviários organizados, metalúrgicos, caminhoneiros, Federación Agraria Argentina (FAA), grêmios estatais.

  24. Movimentos Sociais na Argentina Papel das organizações e movimentos sociais no Argentinazo • Saques: população pobre – principalmente mulheres, em especial mães, além de crianças e idosos. • Espontâneos, com objetivo de conseguir comida, ainda que com um componente de protesto. • GBA: 9 mil pessoas, em 30 focos de saques. • Diferentes níveis de organização e de consciência política. • “Os saques são menos relevantes onde existe maior organização formal entre os pobres (em assentamentos ou organizações piqueteras): os desempregados assim organizados participam, principalmente antes do [dia] 19, manifestando para reclamar de comida em frente a grandes hipermercados, mas não para saquear” (Campione, 2006, pg. 67).

  25. Movimentos Sociais na Argentina Papel das organizações e movimentos sociais no Argentinazo • Cacerolazo (quarta-feira, 19, à noite) • Não é protesto liderado pelos movimentos. Característica de massas. • Concentrado na Capital Federal, contra o governo e os políticos. • Contra a tomada de decisões unilaterais por parte do Executivo, legitimação pelo Legislativo, e Estado de sítio. • Manifestação pacífica: insurreição da pequena burguesia. • Abre caminho para a luta de rua que vai se desenvolver no dia seguinte principalmente em Buenos Aires, enquanto em outras cidades seguem manifestações pacíficas convocadas por organizações corporativas (profissionais-sindicais).

  26. Movimentos Sociais na Argentina Papel das organizações e movimentos sociais no Argentinazo • Combate de massas no centro de Buenos Aires (quinta-feira, 20 de dezembro) • Insurreição espontânea. • Começa com festejo da renúncia de Cavallo, ainda na madrugada. • Guardas de infantaria da Política Federal atacam manifestantes. • Madres de Plaza de Mayo: convocam organizações políticas e sociais para somarem-se em sua habitual ronda e exigir o imediato fim da repressão, supressão do estado de sítio, fim do pagamento da dívida externa, redução de regalias a legisladores e juízes, e trabalho digno para todos. • Multidão toma a praça; combate de rua; forte repressão da polícia.

  27. Movimentos Sociais na Argentina Desdobramentos: novas formas de luta e de organização • Recomposição classes subalternas - sensação de “estar farto”. • Inicia verão de mobilização permanente: contínua criação de novas formas de organização e expressão. • Convertem Argentina em “laboratório social em movimento”. • Piqueteros: núcleo deste fenômeno • Assembléias populares (compostas pelas camadas médias da sociedade, sem experiência organizativa anterior). • Empresas ocupadas/ recuperadas.

  28. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil argentina a partir do Argentinazo a) Assembléias de bairro • Origem: interior do país. Vecinazo: 1982/83. • Ganha força no calor de dezembro de 2001. • Conformaram-se imediatamente após a rebelião popular. • Ações emergenciais: hortas comunitárias, “comedores”, produção solidária de pão, atividades culturais e educativas. • Ápice: mais de 300 assembléias ativas em todo o país. • Slogan: “Que se vayan todos”. • Bairros de classe média, sobretudo Capital, GBA e entorno. • Não se confundem com a conformação de grupos contra o corralito.

  29. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil a partir do Argentinazo: Assembléias de bairro • Tentativa de retomar organizadamente participação social por setores que haviam ficado fora da militância e visto desaparecer ou decair suas organizações da etapa anterior (sociedades de fomento, clubes de bairro, partidos políticos com militância ativa no plano local). • Sentimento de forte descontentamento com dirigentes políticos e sociedade em geral. • Influência do movimento piquetero: mecanismos horizontais de decisão, debate aberto, mandatos revogáveis, aproximação a trabalhadores desocupados e cartoneros. • Começo de 2002: “Piquete y cacerola, la lucha es una sola”. • Com o tempo, diminuiu tanto apoio da classe média à mobilização popular como influência das assembléias.

  30. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil a partir do Argentinazo: Assembléias de bairro • Desaparecimento/ redução: dissidências internas, saída de setores menos politizados, ou que viram seus objetivos específicos esgotados. • Outras cresceram e tomaram traços de organização permanente: lugares próprios, recuperados ao estilo das fábricas; ex-agências bancárias. • Atividades de formação, comedores e centros culturais, mobilizações públicas específicas ou em rede de movimentos. • Recuperação de um espaço público nem estatal nem partidário, com base no bairro e na identidade de vizinhos. • Para além da democracia representativa, formas autênticas de participação popular, democracia interna.

  31. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil a partir do Argentinazo: Assembléias de bairro • Diferentes dinâmicas de organização interna e forma de exercer práticas políticas. • Algumas concebiam atividade para além da inscrição territorial: assembléia de assembléias (municipais, provinciais). • Nova cultura política cidadã. • Assembléia atravessa múltiplos e diversos movimentos sociais e políticos, alcançando uma surpreendente capilaridade em todo o tecido social. • Democracia participativa contra “punteros” locais (herança clientelista peronista).

  32. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil a partir do Argentinazo b) Empresas recuperadas • Fenômeno da década de 1990, mais radical e visível a partir de dezembro de 2001. • Perfil: fábrica ~ 40 anos; 40 a 100 trabalhadores e processo progressivo de esvaziamento, quebra e endividamento, fechada ou a ponto de fazê-lo. • Modelos distintos: trabalhadores mantêm ou fazem voltar ao funcionamento • Atores: trabalhadores formais, com experiência em organizações políticas e ações coletivas, associados à cultura sindical. • Processo árduo: problemas jurídico-legais e com poder público, desafios econômicos e organizacionais.

  33. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil a partir do Argentinazo: Empresas Recuperadas • De 800 empresas falidas, 200 recuperadas. • Alternativas de organização: • Cooperativa • Estatização com o controle operário • Constituição de sociedade anônima • Mesma lógica: trabalho servir à comunidade e não ao mercado. • Mobilização e apoio da comunidade local • Cerâmica Zanón: nucleou Coordinadora del Alto Valle, com sindicatos, MTD e agrupamentos, inclusive arranjos produtivos. • Resistem exitosamente às tentativas de desalojamento. • Alguns milhares de trabalhadores em todo país, mas nem por isso pouco importantes.

  34. Movimentos Sociais na Argentina Sociedade civil a partir do Argentinazo: Empresas Recuperadas • Aglutinaram-se: • Movimento Nacional de Fábricas Recuperadas pelos Trabalhadores (MNFR) - base anticapitalista. • Movimento Nacional de Empresas Recuperadas (MNER). • Movimento mais organizado em nível nacional: • Aprova legislação • Apóia cooperativas • Resiste a despejos • Articulação com outros movimentos e organizações sociais. • Judiciário: defesa da propriedade privada – ameaça constante.

  35. Movimentos Sociais na Argentina Por que elegemos Assembléias e Empresas Recuperadas? • Formas de organização coletiva bastante identificadas com o período do Argentinazo • Possuem articulações e relações com organizações e movimentos de maior força em momento prévio (como piqueteros, centrais de trabalhadores e movimento de desempregados). • Caracterizam-se por tomada de decisão coletiva e participação horizontal como formas de agir cotidianas, incorporadas e reinventadas no próprio processo, entre pessoas que não necessariamente militavam previamente, em especial segmentos da classe média. • Emergem contra neoliberalismo, nas fissuras.

  36. Movimentos Sociais na Argentina Por que elegemos Assembléias e Empresas Recuperadas? • Congregam aspectos político e econômico com nova cultura organizacional. • Espaços físicos recuperados: esfera não-estatal. • À margem e contra partidos e instituições. • Participação de mulheres. • Organização autogestionária. • Afirmação da identidade: base comunitária/ territorial.

  37. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais Constituem-se em novos movimentos sociais?(Alberto Melucci) --> conflito --> solidariedade --> ruptura --> latência/ visibilidade

  38. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Melucci • Movimentos como sistemas de ações, redes complexas entre os diferentes níveis e significados da ação social. • Conflito político e econômico: • Movimento assembleário: contra o sistema político tradicional • Movimento de empresas recuperadas: contra a ordem de produção capitalista • Realizam em sua prática cotidiana as mudanças de valores que defendem: horizontalidade, auto-gestão, autonomia, protagonismo. Se ocupam de mudar o presente, não o futuro. • Postura de mudança da cultura política vigente. • Auto-gestão e horizontalidade demandam igualdade, além de disposição e respeito para escutar ao diferente.

  39. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Melucci • Promovem ruptura com a ordem vigente: fora do escopo de leis então existentes: • Fábricas ocupadas: ruptura com modo de produção. • Assembléias: ruptura com sistema político (democracia representativa). • Necessidade de inventar novas formas de organização política, baseadas nos mesmos princípios que praticam no dia-a-dia. • Alta preocupação por autonomia frente ao Estado, patrões e partidos políticos sistêmicos; rechaçam a dirigência política. • Repressão é política e econômica. • Mudança de valores é o que mais preocupa aos repressores.

  40. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Melucci • Assembléias e empresas são movimentos dos menos excluídos e depauperados. Sujeitos oriundos de organizações mais experientes (movimento piquetero, sindical) e educados (classe média). • Pessoas mais experientes em movimentos detêm maior conhecimento sobre os códigos, e podem utilizar esta vantagem. • “Movimentos são um sinal; eles são meramente o resultado de uma crise. Assinalam uma profunda transformação na lógica e no processo que guiam as sociedades complexas. Como os profetas, eles falam antes: anunciam o que está tomando forma mesmo antes de sua direção e conteúdo tornarem-se claros. Os movimentos contemporâneos são os profetas do presente” (Melucci, Challeging Codes, citado em Gohn, 1998, p. 157)

  41. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Touraine É possível identificar novos atores sociais e a ênfase no elemento cultural?(Alain Touraine) --> autogestão e democracia interna --> sujeito --> mulheres

  42. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Touraine • Touraine destaca três elementos: o ator, seu adversário e o que está em jogo no conflito. • Três princípios de interpretação: identidade, oposição e totalidade. • Transformações da globalização: transformação do mundo do consumo como o grande espaço de socialização das relações sociais, importância das comunicações – mudanças que levam ao crescimento do individualismo. • Para um movimento, o que importa é desempenhar um papel decisivo na transformação do sistema político. • "Os novos movimentos sociais falam mais de autogestão do que de sentido de história e mais de democracia interna que de tomada de poder", diz Touraine (1994, p. 295).

  43. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Touraine • Para Touraine, o indivíduo só se torna sujeito quando recusa a ordem social vigente em nome da livre produção de si próprio. • O movimento social é ao mesmo tempo um conflito social e um projeto cultural. Age sobre questões ligadas ao cotidiano dos indivíduos, contemplando aspectos culturais aos quais os partidos políticos não respondem. • Emilio, membro da assembléia de bairro Tierra del Sur: "Dejamos de ser sujetos marginales, desocupados, excluídos, para ser sujetos históricos, sujetos activos, sujetos participantes. Actores de nuestras propias vidas" (Siltrin, 2005, pg. 266).

  44. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Touraine • “Sociedade das Mulheres”: • Mulheres são maioria nos movimentos argentinos analisados. • Enfrentam machismo na divisão de tarefas e discussões, em especial em fábricas recuperadas que não tenham mulheres como maioria. • Há pouca discussão de gênero, de sexo, direitos reprodutivos. • Desejam romper com o machismo com a prática.

  45. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Gohn Quais categorias da análise de ações coletivas estão presentes? (Maria da Glória Gohn) --> Organizações ativistas – situação de crise - não há ONGs empresariais --> Voluntariado militante e solidário. --> Assembléias e empresas recuperadas como espaços de uma nova esfera pública (Habermas)

  46. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Gohn • Experiência de autogestão se espraia para outras ações coletivas: ocupação de estabelecimentos públicos na luta por moradia, por espaços culturais e de lazer comunitários, e a própria rua como espaço público retomado. • Espaço público não estatal: “... hay gente que fue a asambleas y habló por primera vez en su vida en algún lugar, nunca había hablado porque se quedó en su casa. Yo creo que la gente se animó a un montón de cosas más, porque tuvo el espacio” (Carina, Argentina Arde – coletivo de meios indenpendentes. Siltrin, 2005, p. 46)

  47. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Gohn • Características dos NMS (Johnston, Laraña e Gusfield): 1. Tendência a transcender a estrutura de classe; 2. Pluralidade de idéias e valores – tendências a orientações pragmáticas; 3. Emergência de novas dimensões de identidade; 4. Obscurecimento da relação entre o individual e o coletivo; 5. Aspectos pessoais e íntimos da vida humana; 6. Mobilização de ruptura e resistência; 7. Organização e proliferação relacionadas com a crise de credibilidade dos canais convencionais de participação nas democracias; 8. Organização de forma difusa, segmentada e descentralizada.

  48. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Gohn • Segundo Gohn (1998), Offe aponta a emergência dos movimentos em um momento de crise de legitimidade do Estado, que seria conseqüência da instabilidade da própria sociedade. • Para Offe, os movimentos sociais são frágeis e voluntariosos, baseados no pragmatismo, pluralismo e experimentação de diferentes ideologias, e não formuladores de programas mais amplos. • Assembléias e empresas recuperadas aplicam-se a esta análise.

  49. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Scherer-Warren Podemos identificar os conceitos e categorias de redes de movimentos e de organizações? (Ilse Scherer-Warren) --> associativismo local (expressões locais e/ou comunitárias) --> formas de articulação inter-organizacionais (como fóruns, associações de ONGs, redes de redes), facilitada pela infra-estrutura técnica (Internet/ e-mail) --> mobilizações da esfera pública (grandes manifestações em praça pública, incluindo a participação de simpatizantes: visibilidade através da mídia, efeitos simbólicos)

  50. Movimentos Sociais na Argentina Análise à luz das teorias de movimentos sociais: Scherer-Warren • Diversidade identitária dos sujeitos. • Transversalidade nas demandas por direitos. • Luta por aprofundamento dos direitos sociais. • Formas de ativismo e de empoderamento através de articulações em rede • Participação política das organizações em rede. • Temporalidade, territorialidade e sociabilidade. • Argentinazo seria a manifestação de uma grande rede de movimentos?

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