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PUC/RS - FFCH Curso de Filosofia Metodologia Filosófica Prof. Nereu R. Haag Turma 256 - 2 AB-CD - 2012/I Alunos: Herika Giordana , Luis Samuel, Marion Buava , Paola Perazzo , Rodolfo Anselmo . TEMA: PLATÃO: Um mito . Apresentado na aula em: 04/06/2012 .
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PUC/RS - FFCHCurso de FilosofiaMetodologia FilosóficaProf. Nereu R. HaagTurma 256 - 2 AB-CD - 2012/IAlunos: HerikaGiordana, Luis Samuel, Marion Buava, PaolaPerazzo, Rodolfo Anselmo .TEMA: PLATÃO: Um mito.Apresentado na aula em: 04/06/2012.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS METODOLOGIA FILOSÓFICA NEREU HAAG ALUNOS: HERIKA GIORDANA, LUIS SAMUEL, MARION BUAVA, PAOLA PERAZZO, RODOLFO ANSELMO • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL • FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS • INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – FILOSOFIA
I. Um mito PLATÃO O que primeiro devem aprender é qual é a natureza do homem e quais foram suas provações. A humanidade compreendia três gêneros, havia um terceiro, o andrógino era um gênero distinto e que, tanto pela forma como pelo nome, tinha algo dos outros dois, ao mesmo tempo do macho e da fêmea. A forma de cada um desses homens era inteiriça, sendo as costas redondas e os flancos circulares. E por que esses gêneros eram em número de três, e assim constituídos? É que o masculino é originariamente um rebento do sol; o feminino, da terra; e o que participa dos dois, rebento da lua, já que também a lua participa dos outros dois astros. Eram seres de uma força e de um vigor prodigiosos; chegaram a desafiar os deuses. Ora, Zeus e as outras divindades perguntavam-se o que deviam fazer, pois não podiam fazer eles perecerem. Zeus toma a palavra: "Acho que sei de um jeito, de fazer eles ficarem enfraquecidos. Vou cortar cada um deles pela metade. E, se mesmo assim perseverarem em sua arrogância e não quiserem nos deixar em paz, então tornarei a cortá-los em dois, de modo que andem sobre uma perna só, aos pulos." Dizendo isso, cortou os homens em dois. Aos que havia assim cortado, mandava a Apolo que lhes virasse o rosto e a metade do pescoço para o lado do corte: o homem, tendo sempre sob os olhos o que sofrera, seria mais moderado.
Nessas condições, dividira em dois o ser natural. Então cada metade, com saudades da outra, envolvendo-se com os braços e enlaçadas uma à outra, no desejo de formarem um único ser. Compadecido, Zeus concebe um novo artifício: passa-lhes para a frente as partes pudendas, pois, até então, era na face posterior que estas se encontravam, a geração e o parto se dando individualmente em contato com a terra como acontece com as cigarras. Seu objetivo era este: o acasalamento devia ter por efeito, no encontro de um homem e uma mulher, que houvesse geração e reprodução da espécie; ao mesmo tempo, no encontro de um macho com um macho, que a satisfação fosse ao menos o fruto de seu comércio e que, saciados, pudessem voltar-se para a ação, interessando-se pelas demais coisas da existência. Desde esse tempo remoto que no coração dos homens se implantou o amor de uns pelos outros, amor pelo qual é reunida nossa natureza primeira, amor cuja ambição é fazer, de dois seres, um só, e assim curar a natureza humana. (O banquete, 189 d-191 d, mito de Aristófanes trad. Francesa de L. Robin, ed. Belles-Lettres)
Mito: discurso vazado nas formas da narrativa figurada, porque não há Idéia daquilo que ele visa, não havendo portanto dialética possível para nos elevar à ciência. Como somos seres encarnados, vivendo neste mundo, no tempo, não podemos proceder a não ser por representações, símbolos, imagens, ficções. O pensamento, porém, funcionando em sentido contrário da imaginação, consegue extrair dela a significação. Interpretado, o processo mítico é transcrito em gênese racional. A antropologia fantástica de Aristófanes situa-se entre a pilhéria (que distancia) e o "mistério" (cerimonial iniciático para fazer do neófito um mustês - aquele que é iniciado nos mistérios). Tema geral: a origem de eros (o amor-desejo). Tese: eros, fruto de uma divisão, é o grande mediador. Objeto de discussão: compreender a condição humana. Momentos do texto: 1) quadro da natureza original do homem; 2) a punição divina: ato de nascimento de nossa natureza atual; 3) nascimento e funções de eros.
Idéias e argumentos • - Nossa natureza humana não é uma essência intemporal, mas um resultado. Esse resultado depende de um acidente dramático, decorrente da tentativa dos homens, movidos pela hubris (desmedida), de rivalizar com os deuses. • - Para apreciar nossa natureza atual e o alcance desse acidente, cumpre produzir, pelo jogo fantástico da imaginação, o padrão da integridade primitiva. • - Não se trata apenas do mito do andrógino, como se repete com frequência, já que existem três tipos de seres primitivos: macho-macho, fêmea-fêmea, macho-fêmea (o andrógino). • - Os gêneros masculino e feminino dependem de uma simbólica cósmica (macho = sol, fêmea = terra, misto = lua) e não da divisão em sexos (sexus = dividido), que é posterior. • - O que motiva a "queda" do homem não é sua imperfeição nativa, mas, ao contrário, sua perfeição (simbolizada por sua compleição esférica, etc.), que provoca a hubris. • Os homens são intoleráveis, mas os deuses têm necessidade dos homens, que só são homens se permanecem em seu lugar, que é intermediário (nem animais, nem deuses). • - O homem atual afigura-se nos como um "indivíduo", quando na verdade é um "divíduo" (um dividido). É o que o faz “andar direito", literalmente. Se não o fizer, será punido de novo, e andará numa perna só.
- Apolo-médico trata e ajeita o dividido, para torná-lo viável, fazendo que ele veja a marca de sua condição dividida e dependa de outro. • - A sexualidade decorre da divisão do homem em dois, não dos gêneros (cósmicos) macho e fêmea. • - Essa sexualidade se distingue da reprodução, já que a geração pode reduzir-se a um contato com a terra (cigarras) e as relações macho-macho e fêmea-fêmea não são reprodutivas. • -O amor-desejo é o efeito da divisão; portanto ele está, como os sexos, ligado à existência e não à essência. • - Nascido da divisão, ele é negativo, marca em baixo relevo da integralidade - da integridade - perdida. • - Eros não é primeiramente sexualidade, mas busca de totalidade reunificada (porque perdida). Esse é o sentido de todas as relações amorosas em geral. • - A relação homem-mulher não é senão um caso entre os três possíveis, mas o único a permitir a continuação da humanidade (procriação). • - Eros resolve o problema da hubris, pois leva o homem a unir-se a seus semelhantes e não aos deuses. • - O amor não produtivo (procriação impossível entre macho-macho e fêmea-fêmea) engendra apenas a saciedade do prazer erótico. • Essa saciedade constitui seu limite e engendra o tédio (e não filhos). A energia erótica exprime-se então por outros meios: a ação. • - Eros, como mediador da totalidade, é o grande médico de nossa condição humana.
Lição Eros, o amor-desejo, é o efeito, a marca e o remédio de nossa natureza em "queda", e a chave de todas as atividades humanas. Ele é fundamentalmente aspiração à totalidade (re)unificada, portanto mediador de todos os seres encarnados. Mas ele só ultrapassará este mundo aspirando à Beleza em si, que é de uma outra ordem.