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RUMO à UDESC 2012/1

RUMO à UDESC 2012/1. Literatura Prof. Karen Neves Olivan karenolivan@gmail.com. ERA COLONIAL. ERA NACIONAL. Barroco ( Seiscentismo )  1601 - 1768. Arcadismo ( Setecentismo )  1768 - 1808. Literatura de informação  1500 - 1600. 1ª geração modernista  19022 - 1930.

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RUMO à UDESC 2012/1

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Presentation Transcript


  1. RUMO à UDESC 2012/1 Literatura Prof. Karen Neves Olivan karenolivan@gmail.com

  2. ERA COLONIAL ERA NACIONAL Barroco (Seiscentismo)  1601 - 1768 Arcadismo (Setecentismo)  1768 - 1808 Literatura de informação  1500 - 1600 1ª geração modernista  19022 - 1930 2ª geração modernista  1930 - 1945 3ª geração modernista  1945 - 1960 Realismo-Naturalismo  1881 - 1902 Literatura contemporânea  1961... Pré-modernismo  1902 - 1922 Parnasianismo  1882 - 1902 Romantismo  1836 - 1881 Simbolismo  1893 - 1902

  3. ERA COLONIAL ERA NACIONAL Barroco (Seiscentismo)  1601 - 1768 Arcadismo (Setecentismo)  1768 - 1808 Literatura de informação  1500 - 1600 1ª geração modernista  19022 - 1930 2ª geração modernista  1930 - 1945 3ª geração modernista  1945 - 1960 Realismo-Naturalismo  1881 - 1902 Literatura contemporânea  1961... Pré-modernismo  1902 - 1922 Parnasianismo  1882 - 1902 Romantismo  1836 - 1881 Simbolismo  1893 - 1902 Jorge, um brasileiro  1967 Ao som do realejo  2008 13 Cascaes  2008 A cidade ilhada  2009 Memórias de um Sargento de Milícias  1852-53

  4. ROMANTISMO • CONTEXTO HISTÓRICO • Guerras napoleônicas (desdobramento Rev. Francesa). • O legado da 1ª Revolução Industrial. • O liberalismo francês. • A vinda da família real portuguesa para o Brasil. • O período Joanino (1808-1821). • A Independência do Brasil (1822).

  5. ROMANTISMO • CARACTERÍSTICAS • Liberdade de criação e de expressão – a liberdade de pensamento e de criação faz do romântico um opositor natural do Classicismo e do Neoclassicismo (Arcadismo). • Sentimentalismo – supervalorização do amor – o coração é a medida mais exata da existência; o amor é o valor supremo da vida. • Idealização – a fuga da realidade vai se manifestar ora pela criação de um mundo ideal (cenários maravilhosos, exóticos e luxuosos), ora pela morte. • Agradar ao público – a literatura romântica reflete o gosto burguês da época, público consumidor-leitor das obras.

  6. ROMANTISMO • CARACTERÍSTICAS • Forte nacionalismo – valorização do passado histórico, da cor local, orgulho pela pátria (ufanismo). • Culto à natureza – a natureza exótica, exuberante e riquíssima, vista como fonte de inspiração, motivo de orgulho, refúgio onde o poeta busca conforto e identidade, espelho que reflete o estado de alma do artista. A todos esses sentimentos, acrescenta-se a religiosidade, que vê a natureza como expressão da força divina. • Indianismo – o indígena é a figura idealizada do herói nacional, pode ser comparado ao cavaleiro medieval.

  7. ROMANTISMO PROSA POESIA 1ª GERAÇÃO (1836-1850) • Fase de implantação e de consolidação do Romantismo. • Influências de Jean-Jacques Rousseau (o mito do bom selvagem). • Predomínio do nacionalismo e patriotismo. • Indianismo e culto à natureza. • Forte religiosidade. • Poesia amorosa, idealizante e marcadamente sentimental. 2ª GERAÇÃO (1850-1860) • Geração byroniana ou Ultra-Romantismo. • Subjetivismo, egocentrismo, tendendo ao sonho e à fuga da realidade. • Temática emotiva de amor e morte, dúvida e ironia, entusiasmo e tédio. • Forte tendência para o devaneio, o erotismo difuso ou obsessivo, a melancolia, o tédio, o pessimismo e a insatisfação. • Obsessão pela imagem da morte. • O medo de amar, o amor platônico e irrealizado. 3ª GERAÇÃO (1860-1880) • Geração Condoreira ou Condoreirismo – estilo grandioso, com uma linguagem que visa à grandiloquência. • Inspiração no profetismo de Victor Hugo. • Contempla as produções poéticas dos momentos finais do Romantismo e muito próximas do Realismo. • É a poesia social e libertária do Romantismo. • O amor platônico perde espaço, que passa a ser ocupado por manifestações sensuais e até eróticas de amor: a mulher se apresenta mais real e palpável. • Estrutura folhetinesca. • Maniqueísmo – triunfo do bem e punição do mal, com intenção moralizante. • Literatura de cor local, que busca detalhar os costumes da época. • Comunhão entre a natureza e os sentimentos dos personagens. • Personagens lineares (comportamento previsível) – os protagonistas são dotados de todas as virtudes físicas e morais, e os antagonistas são claramente caracterizados como tais. • Obediência à dinâmica do amor: • Romances Românticos:

  8. MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS Manoel Antônio de Almeida

  9. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Único romance de Manuel Antônio de Almeida. • Publicado em 1852-53 sob a forma de folhetins. • O título do romance foi escolhido pelo fato de a obra narrar a história de Leonardo Pataca, um vadio que acaba se transformando num sargento de milícias no tempo de D. João VI. • Esta obra contrasta com os romances românticos de sua época e possui traços que anunciam a literatura modernista do século XX, por três razões. • Primeiro, por ter como protagonista o primeiro herói malandro da literatura brasileira, chamado também de anti-herói.

  10. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Segundo, pelo tipo especial de nacionalismo que a caracteriza, ao documentar traços específicos da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, com seus costumes, os comportamentos e os tipos sociais de um estrato médio da sociedade, até então ignorado pela literatura. • Terceiro, pelo tom de crônica que dá leveza e aproxima da falasua linguagem direta, coloquial, irônica e próxima do estilo jornalístico. • O sentido de "Memórias" dá-se ao fato de a obra não se enquadrar em nenhuma das racionalização ideológica da literatura brasileira da época: indianismo, nacionalismo, grandeza, sofrimento, redenção pela dor, pompa do estilo etc.

  11. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Essas “Memórias” exprimem a acomodação geral que dissolve os extremos, tira o significado da lei e da ordem, manifesta a penetração recíproca dos grupos e das ideias, das atitudes mais díspares, criando uma espécie deterra-de-ninguém moral, onde a transgressão é apenas um matiz na gama que vem da norma e vai ao crime. • Também chamada de novela de tom humorístico que faz crônica de costumes do Rio Colonial, na época de D. João VI. • O romance reporta-se a uma fase em que se esboçava no país uma estrutura não mais puramente colonial, mas ainda longe do quadro industrial-burguês.

  12. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Não há idealização das personagens, mas observação direta e objetiva. Presença de camadas inferiores da população (barbeiros, comadres, parteiras, meirinhos, designados pela ocupação que exercem). • As personagens não são heróis nem vilões, praticam o bem e o mal, impulsionadas pelas necessidades de sobrevivência (a fome, a ascensão social).

  13. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Quanto à estrutura, a novela está dividida em duas partes: a primeira com 23 capítulos e a segunda com 25. • Os episódios são quase autônomos, só ligados pela presença de Leonardo, dando à obra uma estrutura mais de novela que de romance, como já ficou observado. • O leitor acompanha o crescimento do herói com sua infância rica em travessuras, a adolescência com as primeiras ilusões amorosas e aventuras, e o adulto, que, com o senso de responsabilidade, que essa idade exige, vai-se enquadrando na sociedade, o que culmina com o casamento.

  14. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Este romance é narrado em terceira pessoa, contudo o cinismo bem-humorado, as sistemáticas interferências nas situações sempre divertidas que relata, as ironias e as brincadeiras envolvendo costumes e personagens da época constituem alguns traços marcantes deste narrador, cujo juízo crítico a respeito do que vai documentando algumas vezes revela-se de forma claramente debochada. • Além disso, esse narrador transita da terceira para a primeira pessoa. Assumindo, assim, uma cumplicidade com o leitor, o que significa um anúncio de procedimentos modernistas, também percebido nas conversas com o leitor e nos comentários jocosos que faz à propósito do que conta.

  15. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Leonardo e Maria viajavam de Lisboa rumo ao Rio de Janeiro, no navio se apaixonaram. • Logo após, casaram e tiveram um filho chamado Leonardo, que desde pequeno era manhoso e arteiro. • Com o tempo, Maria trai o marido que, ao descobrir, surra a mulher, que foge com seu amante, o capitão de um navio, para Lisboa. • Leonardo vai embora, abandonando o filho. • Leonardo (filho) ficou então aos cuidados de seu padrinho, um barbeiro “bem arranjado”, que passou a estimar muito o menino. • Planejou fazê-lo padre, iniciou a escrita e a leitura, bem precariamente, e depois o encaminhou à escola.

  16. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Por esses tempos a madrinha de Leonardo também apareceu e lhe visitava sempre. • O menino não passava um dia sem apanhar na escola com a palmatória do mestre. • Quando passou a ir sozinho, faltava às aulas e ia para igreja se juntar a Tomás e fazer bagunça. • Imaginando a facilidade que teria em aprontar se viesse a ser coronhinha como o amigo, pediu ao padrinho que lhe fizesse tal, o padrinho aceitou alegremente o interesse pela igreja. Mas logo o menino foi expulso por tanto aprontar. • Já rapaz, levava uma vida de vadio. • Ele e o padrinho passaram a ir à casa de D. Maria, essa tinha uma sobrinha, Luisinha, Leonardo apaixonou-se por ela.

  17. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Em meio às suas intenções, apareceu um rival, José Manuel, sua madrinha tomou parte e inventou uma mentira para que o rival de seu afilhado perdesse a estima que tinha. • Nesses tempos, o padrinho morreu e Leonardo foi viver com seu pai que, depois de muito lutar por uma cigana, acabou casado com a filha da comadre. • Ele não se dava muito bem com a madrasta, então, em um dia após visitar D. Maria e não ver Luisinha, se envolveu de novo em uma briga com a madrasta, seu pai tomou parte dela e o ameaçou com uma espada. • Leonardo fugiu para a rua.

  18. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Andou muito, encontrou-se com Tomás e mais uns amigos, dentre eles Vidinha, que lhe despertou uma nova paixão. • Foi viver na casa deles, lá viviam duas senhoras irmãs, uma era mãe de três moças e outra, mãe de três rapazes. • Uma das moças era namorada de Tomás e Vidinha era a paixão de dois dos rapazes. Como essa se mostrava mais interessada em Leonardo, os dois primos armaram contra ele. • A armação levou-o preso pelo major Vidigal, homem muito temido. Mas antes que chegasse à cadeia, o rapaz fugiu. • Com o objetivo de evitar motivos para uma nova prisão, a madrinha de Leonardo lhe arrumou um emprego na casa-real, mas o rapaz logo foi despedido por ter se aproximado da mulher de um dos homens do poder da casa.

  19. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Ao saber disso, Vidinha foi tomar satisfações. • Leonardo saiu atrás dela para impedir, quando chegaram à porta da casa, na indecisão de entrar ou não, ele acabou sendo levado por Vidigal que o esperava por lá. • Nesses tempos, a mentira da madrinha tinha vindo à tona e José Manuel foi redimido e ganhou a mão de Luisinha em casamento, logo depois mostrou o mau caráter que tinha. • Leonardo foi feito granadeiro do major Vidigal, Vidinha e sua família buscaram muito por ele e, sem encontrar, passaram a odiá-lo por cometer a desfeita de abandonar sem explicação quem o acolhera.

  20. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • Em uma noite, Vidigal, armando a prisão de Teotônio, mandou Leonardo até a casa do pai dele, lá estava dando a festa de batizado da filha de tal e Teotônio animava a festa. • Leonardo ficaria no batizado para facilitar a captura, Vidigal e seus homens esperavam na porta. • No entanto, Leonardo se sentiu um traidor e armou com Teotônio sua fuga sem que se comprometesse. • O plano deu certo, mas de tão alegre que ficou acabou por se denunciar. • Vidigal então o prendeu. • Ao saber de tal coisa sua madrinha foi rogar por ele ao major, sem resultado; após uma forte reconciliação com D. Maria, foi as duas pedir a libertação do rapaz, o que não conseguiram.

  21. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • As duas senhoras foram atrás da ajuda de Maria-Regalada, a primeira paixão de Vidigal, ela concedeu a ajuda e as três foram implorar pela libertação de Leonardo. • Depois de muito tentar e nada conseguir, Maria-Regalada falou em particular com Vidigal, disse que se libertasse o rapaz iria viver com ele, como ele já lhe pedira muitas vezes. • Com tal proposta, o major cedeu e ainda prometeu uma surpresa. • Durante tais acontecimentos Luisinha ficou viúva, foi no dia do enterro de José Manuel que Leonardo apareceu, tinha sido feito sargento. • Passou a frequentar novamente a casa de D. Maria, seus interesses por Luisinha renasceram e os dela também.

  22. Memórias de um Sargento de MilíciasManuel Antônio de Almeida • A madrinha e D. Maria estavam mais do que de acordo com o casamento deles, o que impedia era o posto de sargento, que não permitia o casamento. • Pediram então novamente a ajuda de Vidigal, que nesses tempos já vivia com Maria-Regalada. • O homem cedeu com gosto e fez de Leonardo sargento de milícias, ofício que permitia o casamento. • Dado a essas circunstâncias, casou-se com Luisinha. Depois de tais acontecimentos, Leonardo pai e D. Maria faleceram.

  23. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado • Este 'Ao som do realejo' é um livro de livros interruptos. Livro de limbos e umbrais, de paisagens inéditas que se narram pelo que ocultam. Péricles Prade evoca o realejo esse órgão cíclico e mecânico de música à manivela para indicar, na escuta da sua mito-poética ancestral, o lugar nunca exato onde as causas cessam e não se completam as consequências. E o que escreve, mais do que conto breve, é música de imagem. É o que Valdir Rocha conta, pelas ilustrações, é a imagem-música".

  24. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado • ANO DE PUBLICAÇÃO: 2008 • LITERATURA CONTEMPORÂNEA CATARINENSE • ILUSTRAÇÕES – VALDIR ROCHA • POSFÁCIO – ALVARO CARDOSO GOMES • COMENTÁRIOS – DENNIS RADÜNZ • GÊNERO – CONTOS (17 PEQUENAS NARRATIVAS) • TEMAS – DIVERSOS (PROFANOS E ESTRANHOS) • NARRAÇÃO: 1ª E 3ª PESSOAS • PROFANO: QUE NÃO É SAGRADO; NEM RESPEITA AS COISAS SAGRADAS

  25. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado O Realejo Quebrado: • Livro poético que não contém poesia. • Leitura que nem sempre agrada. Quando se termina de ler, pensa-se “não entendi nada”. • O livro consiste em um grupo de contos; alguns com começo, meio e fim que, não obstante, também são breves. Às vezes, alguns contos consistem em uma única frase, além de, não raro, composição simples, porém, com sentidos ocultos. • O autor, Péricles, apresenta mundos distintos, usando intertextualidade liberta e inovadora (o que caracteriza sua escola).

  26. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado O Realejo Quebrado: • Ele tenta cativar o leitor com uso inovador de linguagem, simbolizada pelo antigo instrumento de caixa com manivela, isto é, o realejo. • Péricles é um importante escritor da ACL (Academia Catarinense de Letras), e fez parte em trabalhos importantes da literatura catarinense, como “13 Cascaes”, em que apresenta seu conto “Talvez a primeira e última carta”. • No entanto, em “Ao Som do Realejo”, as histórias se mostram confusas, como se fossem, propositalmente ou não, um realejo quebrado, semelhante ao que lembra a música “Caixa de música quebrada”, de Heitor Villa-Lobos (maestro e pianista que participou da Semana de Arte Moderna).

  27. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado O Realejo Quebrado: • Assim, por apresentar pouco sentido, fica então, pois, difícil de contextualizar. • No entanto, ao final do livro, possui um posfácio de Álvaro Cardoso Gomes, que tenta dar melhor explicação da temática, até então confusa, da maioria dos “microcontos”. • O posfácio, apesar de, por parte, ajudar na contextualização, não apresenta sentido suficiente para agradar o leitor.

  28. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 01. NO PAÍS DOS SILVANOS Fui recebido por todos com evidente indelicadeza. A explicação de que me apaixonara não foi o suficiente. Silvana seria, apenas, o nome de uma mulher? Não me recordo bem como parei nesse lugar. Parece que, no fim da primavera( ou era no começo?), quando abandonei meu sexto filho, fascinou – me o som de uma música profana. Segui a melodia até a beira do rio, tendo na ocasião, me impressionado com o curso natural de uma folha amarela. Sobre a folha, coloquei o pé esquerdo. Ele diminuiu, ela cresceu. Os reflexos das águas quase me cegaram e o verde da paisagem, que me cobria os olhos, soluçava a ponto de fazer as minhas mãos e as do balseiro tremerem. A sensação era a de que navegávamos.

  29. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 02. RELAÇÕES Ao me dirigir ao urinol, aquele que tem por dentro desenhos eróticos portugueses do século XVI, senti algo diferente: uma vontade irresistível de falar o que me passava pela cabeça, mas, o que passava pela cabeça, era para ser guardado, e não para ser revelado. Por isso, calei. Hoje, às sete horas (o horário, aqui, não tem a mínima importância), quando pela segunda vez fui urinar, aquela sensação voltou com maior intensidade. Estou convencido: entre os meus pensamentos e o urinol, há uma relação oculta muito especial. Assim deduzi, após fazer várias experiências, e porque, reconheço, longe dele penso em sexo com intolerável freqüência. Que poder, afinal, Ele tem para me atrair tanto, fazendo-me dependente de sua força inatingível?

  30. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado  03. CERTEZA O furto da coxa não será descoberto. Fiz tudo direito. O complicado é levá-la de um lado para o outro, escondida na porta traseira do carro. Se ficar assustada, à noite a deixarei sob a cama. Tenho apenas uma certeza: o dia está chuvoso e, por este motivo, ela não gosta do frio.

  31. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 04. O MÁGICO Quando o olho da moça começou a sangrar, Arphas não teve mais dúvidas: - Mataram a filha Dele, a que habita as pupilas azuis. Anatharis pretendeu explicar a origem do sangue de uma forma simples e humana, mas o mágico, com a fortuna da idade a situar-lhe os caminhos, disse que se calasse. Calou-se. O remorso, fruto íntimo da delicadeza, fez dele um ser inacessível. Olhou para os lados, inibido, e perguntou, quase num tom de súplica, se a jovem gostaria de ouvir algo o verdadeiro. Anatharis consentiu com a cabeça, e o mágico, fechando os olhos, sem derramar uma lágrima, falou sobre a morte da filha Dele, a que habita as pupilas azuis.

  32. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado  05. ESTRELAS CADENTES Antônio Farluz, marinheiro de origem duvidosa, comanda a discussão no bar pleno de prostitutas. O debate se resume ao verdadeiro conceito do orgasmo. Leda, a mais bela, com o pescoço do cisne entre as pernas, tenta, dançando, provocar os presentes sobre a mesa de mármore. Todos, a ela indiferentes, voltam a atenção às palavras do estrangeiro sedutor: - O orgasmo - disse - é como um ninho de estrelas cadentes.

  33. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 06. EXPLICAÇÃO Costuraram a vagina com fios invisíveis. Esta, pelo menos, foi a explicação dada ao amante, naquela noite de verão, quando se recusou a amamentá-lo.

  34. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 07. O PROVADOR DE VENENOS A profissão me agrada. No entanto, a palidez do rosto de meus companheiros interfere no comportamento da cobra. Confirmam os vizinhos que, pela manhã, eles trazem água de cocô embrulhada em papel celofane. A água é para ela, cujo veneno é extraído pelo lavador Osíris, um branco vaidoso, que, nas horas vagas, engraxa as botas de seu patrão mulato. A atitude, sei muito bem, não é a de uma cobra normal. Digo isso sem constrangimento, pois, não é novidade para ninguém, que ela se locomove, sempre em pé, ficando nessa posição o tempo todo, inclusive na hora das refeições, parecendo bengala de metal. A tudo assisto, na sala apropriada para essa espécie de trabalho. Girando sobre o pé esquerdo, o mais idoso joga o frasco veneno para mim, repetindo o que diz todo santo dia: — Prove-o! O gosto é bem diferente daquele que até então eu provara, mas não houve necessidade de prestar novas informações aos membros da Sociedade. A serpente, triste, tomou a iniciativa, comportando-se como um S maiúsculo e submisso que sabe o caminho da condenação.

  35. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 08. O VALE DOS PÉS Não quero levar a sério as palavras dele em nosso ultimo encontro. Confesso que fiquei desorientado. Melhor pensando, sinto que elas são verdadeiras. Diria que, no fundo de seu coração enfermo, o Eremita não entendia pronunciá-las. Por isso, fiquei chocado, ao tomar conhecimento, assistindo ao último programa noturno na televisão, de que muitas pessoas foram encontradas, perto do bosque, os pés talvez cortados por afiadíssimo machado. E foram 666 os recolhidos nessas condições. Soube, ontem à noite, quando o rádio engasgou de espanto. O velho me convidou para ir ao Vale, mas o que fazer, agora, com estas pernas enormes balançando, sem poder requer dar um passo?

  36. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado  09. RABO DE OURO Quando se referiam à sua avó como Rabo de Ouro, ficava muito, muito aborrecido, considerando insulto o apelido. Entretanto, quando precisou pagar uma dívida, ao pedir ajuda dela não estranhou o fato de as moedinhas serem cagadas sem muito esforço na palma da mão.

  37. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 10. ALUSÃO A UM PECADO CAPITAL Reli no domingo, com renovado prazer, o último dos livros de Alice Carroll Dodgson. Pude relê-lo apenas até a página 57, exatamente no trecho em que a Lagarta, ao tirar o narguilé da boca, bocejou e espreguiçou-se, observando que um lado do cogumelo a faria crescer e o outro diminuir. A releitura foi impossível, após aquela página, porque as de números 65, 67 e 68 desapareceram. Como já havia lido a obra, há muitos anos, não me preocupei com o fato, imaginando que os cupins haviam comido algumas folhas para matar a fome. Logo adiante, na página 69, quando o gato de Cheshire, ou melhor, o seu sorriso, foi apresentado pela Duquesa, verifiquei que a frase terminava nas palavras "disse a du", e, depois, nada mais havia para ler. Irritado, descobri que a própria folha 157 (o número é da próxima edição), por ser a última da história, resolveu comer as demais, aos poucos, engolindo-as sem seqüência para ninguém desconfiar. De nada adiantou a cautela. A folha 157 não sabia que, além de leitor costumaz, também sou fascinado pelo pecado da gula, conhecendo, portanto, o secreto mapa de suas artimanhas.

  38. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 11. RIO D'ORO (1441) Não foi Henrique, o navegador, príncipe de Portugal, quem me autorizou o tráfico de escravas. A verdade é que sempre tive fascínio pela escravidão. No período em que Rio D'Oro ainda era colônia espanhola, uma negra retinta, chamada Mãe Joana, foi engravidada por um espírito que não era santo. Um dia, surpreendendo até os mais íntimos, vomitou fios de ouro numa bacia, enrolando-os, para, depois, formar novelo de brilhante consistência. Tomei conhecimento, mais tarde, de que o próprio Henrique, o navegador, príncipe de Portugal, manejava ágil maquininha no útero dela, como se fosse fiandeiro servil, para espantar vício típico da terceira estação do ano. Comentário – o útero da negra foi usado por Henrique como se fosse à casa da mãe Joana. Álvaro no comentário final do livro destaca que "Mãe Joana" é uma alusão ao clichê "Casa da Mãe Joana", ironicamente desvirtuado pelo narrador do texto. Segundo Álvaro é uma crítica ao colonialismo português: a África foi a "Casa de Mãe Joana" para Portugal, como o útero da negra, para Henrique, o navegador.

  39. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 12. PERPLEXIDADE Não é mesmo que cresceu o cabelo na palma da mão.

  40. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 13. ARCO DE FLECHAS INVISÍVEIS Passou pelo óleo de cheiro repugnante na corda do arco do filho, três vezes, conduzindo-o depois até a clareira, não permitindo que ele olhasse para trás. Na boca da noite, a profecia do feiticeiro se realizou. Das árvores da floresta mais próxima caíram milhares serpentes venenosas, que, atraídas por uma força superior, se precipitaram em direção da tribo. A marcha lenta foi sentida apenas pelos que encostaram os no chão. Prepararam-se todos para a morte, abraçados, quando, de repente, surgiu o pequeno índio expulso, empunhando um arco de flechas invisíveis. Segurou com carinho a mão de sua mãe, postando-se bem no meio da aldeia, em silêncio. Depois, começou a andar em círculos, cada vez mais rápido, atirando com nos alvos moventes. Na manhã seguinte, em covas cavadas pelos anciãos, foram sepultadas as últimas serpentes. Os conselheiros, que haviam rejeitado o menino, procuraram-no durante o dia, mas em vão. Sua mãe, sempre que alguém se refere ao fato, limita – se a olhar para o alto, sorrindo.

  41. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 14. COMO UM BALÃO Tenho dificuldade de atender ao desejo de meu vizinho, apesar de o aparelho mecânico ser produto importado. Peço colaboração ao enchedor de pneus, no Posto ao lado. Ele é ainda menos experiente do que eu, mas sua da é fundamental. A barriga, inchada como um balão, conduz o seu corpo sobre as árvores do quintal, dirigindo-se ao norte. Que bom! Vendo-o bem longe, eu poderei, em paz, pescar bonitas carpas na lagoinha cinzenta.

  42. Ao som do realejo: narrativas profanasPéricles Prado 15. RESSENTIMENTO A máquina do tempo passou jogou sobre o tapete as nádegas carentes de Cleópatra. Suportei a raiva em silêncio, como se isso ocorresse pela primeira vez.

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